Teses

Violência por parceiro íntimo e qualidade de vida em idosos resisdentes em Florianópolis, Santa Catarina: estudo de base populacional

Autor: Deise Warmling | Orientadora: Dra. Elza Berger Salema Coelho | Coorientadora: Dra. Sheila Rubia Lindner

Resumo: Este estudo aborda a violência por parceiro íntimo (VPI) e sua associação com a qualidade de vida (QV) na população idosa. A VPI é definida por qualquer ato de agressão física, abuso psicológico, comportamento controlador e abuso econômico, ocorrido na relação íntima entre parceiros. A exposição desta violência pode desencadear impactos na saúde física, mental e nas relações sociais, que influenciam na perda de QV. Para idosos, a QV se define pela satisfação em quatro domínios: controle; autonomia, realização pessoal e prazer. Nesta tese se buscou-se investigar a prevalência da VPI e sua associação entre características sociodemográficas, condições de saúde e o nível de QV em mulheres e homens idosos. Para tanto, realizou-se estudo transversal de base populacional e domiciliar, parte da segunda onda do estudo longitudinal EpiFloripa Idoso que analisou idosos (>60 anos) residentes da área urbana de Florianópolis, Santa Catarina. A seleção da amostra ocorreu em dois estágios (setores censitários e domicílios). A VPI foi mensurada por meio do instrumento Conflict Tatics Scales Form R (CTS-1), adaptado transculturalmente para o português e a QV foi analisada pelo instrumento validado CASP-19 (Control, Autonomy, Self-Realization, Pleasure). As variáveis utilizadas foram: VPI (sofrida, perpetrada e bidirecional), QV (escore total; controle e autonomia; realização pessoal e prazer), sociodemográficas (sexo, idade, cor da pele, situação conjugal), econômicas (escolaridade, renda familiar), de condição de saúde (autopercepção em saúde, morbidades, déficit cognitivo, sintomas depressivos, dependência em atividades de vida diária). A população de estudo consistiu em 651 idosos, correspondente a 54,4% do total de entrevistados (n=1.197) na segunda onda do estudo EpiFloripa 2013/2014. A prevalência de sofrer VPI em homens foi alta (48,3%), tal como nas mulheres (46,4%). A maioria das agressões correspondeu à violência psicológica sofrida (44,8% e 44,5%) e perpetrada (48,3% e 44,8%), enquanto a violência física, sofrida (2,2% e 3,9%) e perpetrada (2,0% e 3,6%) ocorreu em proporções inferiores, em homens e mulheres respectivamente. Não houve diferença estatisticamente significativa entre os sexos nas prevalências de VPI analisadas, mostrando uma simetria de gênero na ocorrência desta forma de violência. A violência bidirecional apresentou-se elevada em ambos os sexos, reforçando a perspectiva relacional da VPI. Encontrou-se associação entre perpetrar violência e autopercepção de saúde ruim/ muito ruim em homens. Nas mulheres, estar separada/ divorciada e ter autopercepção de saúde regular associou-se a perpetrar VPI. Ao analisar o impacto da VPI sobre a QV das pessoas idosas, as mulheres que perpetraram violência foram as mais afetadas, apresentando menores escores de QV (-3,15; IC95%: -4,84; -1,45), seguidas pelas envolvidas na violência bidirecional (-2,59; IC95%: -4,10; -1,09) e as que sofreram violência (-1,62; IC95%: -3,06; -0,17). As mulheres perpetradoras (-1,62; IC95%: -2,70; -0,55) e aquelas em situação de violência bidirecional (-1,36; IC95%: -2,41; -0,31), apresentaram menores escores de controle e autonomia, comparadas às mulheres não expostas à VPI.
Os escores de realização pessoal e prazer foi menor para as idosas envolvidas em situações de violência, em qualquer direcionalidade. Nos homens, os escores totais de QV e seus domínios, permaneceram inalterados, quando vivenciaram situações de violência no relacionamento íntimo. Nesta tese, conclui-se que houve simetria de gênero na prevelância de VPI entre mulheres e homens idosos residentes em Florianópolis-SC, sendo que ambos podem sofrer, perpetrar ou estar em situação de violência bidirecional. Porém, ao analisar-se os efeitos desta violência em ambos os sexos, verifica-se que somente as mulheres tiveram sua QV comprometida devido à violência no relacionamento, enquanto os homens não foram afetados.

Palavras-chave: Violência por Parceiro Íntimo. Prevalência. Fatores Associados. Qualidade de Vida. Idosos.

Abstract: This study addresses intimate partner violence (IPV) and its association to quality of life (QOL) in the elderly population. IPV is defined by any act of physical aggression, psychological abuse, controlling behavior, and economic abuse, occurring in the intimate relationship between partners. The exposure of this violence can trigger impacts on physical, mental and social health, which influence the loss of QoL. For the elderly, QOL is defined by satisfaction in four domains: control; autonomy, self-realization and pleasure. In this thesis, we sought to investigate the prevalence of IPV and its association between socio demographic characteristics, health conditions and QOL level in elderly women and men. For that, a cross-sectional study was carried out with a population-based and domiciliary basis, part of the second wave of the longitudinal EpiFloripa Idoso study that analyzed elderly (>60 years) residents of the urban area of Florianópolis, Santa Catarina.
The selection of the sample occurred in two stages (census tracts and households). The IPV was measured using the Conflict Tatics Scales Form R (CTS-1) instrument, transculturally adapted to Portuguese and the QV was measured by the validated instrument CASP-19 (Control, Autonomy, Self-Realization, Pleasure). The variables used were: IPV (suffered, perpetrated and bidirectional), QV (total score, control and autonomy, self-realization and pleasure), sociodemographic (sex, age, skin color, marital status), health status (self-perception in health, morbidities, cognitive deficit, depressive symptoms, dependence on activities of daily living). The study population consisted of 651 elderly people, corresponding to 54.4% of the total interviewees (n = 1,197) in the second wave of the EpiFloripa 2013/2014 study. The prevalence of IPV in men was high (48.3%), as in women (46.4%). Most of the aggressions corresponded to the psychological violence suffered (44.8% and 44.5%) and perpetrated (48.3% and 44.8%), while physical violence suffered (2.2% and 3.9%) and perpetrated (2.0% and 3.6%) occurred in lower proportions, in men and women respectively. There was no statistically significant difference between the sexes in the prevalences of IPV analyzed, showing a gender symmetry in the occurrence of this form of violence. Bidirectional violence was high in both sexes, reinforcing the relational perspective of IPV. There was an association between perpetrating violence and self-perception of health poor / very poor in men. In women, being separated / divorced and having regular self-perception of health was associated with perpetrating IPV. When analyzing the impact of IPV on the QoL of the elderly, women who committed violence were the most affected (-3.15, 95% CI: -4.84, – 1.45), followed by those involved in bidirectional violence, (-2,59; IC95%: -4,10; -1,09) and those who suffered violence (-1.62, 95% CI: – 3.06, -0.17). and those in situations of bidirectional violence (-1.36; 95% CI: -2.41; -0.31). The women perpetrators (-1.62, 95% CI: -2.70, -0.55) and those in situations of bidirectional violence (-1.36, 95% CI: -2.41, – 0.31) presented lower control scores and autonomy, compared to women not exposed to IPV. Self-realization and pleasure was lower for the elderly women involved in situations of violence, in any directionality.
In the men, total QOL scores and their domains remained unchanged when they experienced situations of intimate relationship violence. In this thesis, we conclude that there was gender symmetry in the prevalence of IPV among elderly women and men living in Florianópolis – SC, both of which may suffer, perpetrate or be in bidirectional violence. However, when analyzing the effects of this violence in both sexes, it is verified that only the women had their QoL compromised due to the violence in the relationship, while the men were not affected.

Keywords: Intimate Partner Violence. Prevalence. Associated Factors. Quality of life. Elderly.

 

Violência contra a pessoa idosa: estudo de base populacional em Florianópolis-SC

Autor: Bolsoni, Carolina Carvalho | Orientadora: Prof.ª Dra. Elza Berger Salema Coelho

Resumo: O Brasil está passando por um rápido processo de envelhecimento. Em 2070, a estimativa e´ que a proporção da população idosa brasileira (acima de 35,0%) seja superior ao indicador para os países desenvolvidos. Porém, essa medida possui um contraponto a esta realidade onde o suporte para essa nova condição não evolui com a mesma velocidade. Podemos mencionar a violência contra o idoso, definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como um ato de agressão ou omissão, podendo ser intencional ou involuntário, de natureza física, sexual, psicológica, econômica, institucional, abandono/negligência e autonegligência. As prevalências de violência variam de 1,8% até 60%, dependendo de local, cultura e instrumentos utilizados para estimar sua ocorrência. As agressões existentes contextualizam diversos aspectos que se qualificam em violência social e familiar. A doméstica é aquela praticada no ambiente familiar por parentes ou cuidadores. Esta será foco de análise dessa tese, que tem como objetivo investigar a prevalência de violência contra a pessoa idosa e estimar a associação entre características demográficas, socioeconômicas, cuidadores e condições de saúde nos idosos residentes em Florianópolis, Santa Catarina. A população de referência do estudo constitui-se por pessoas idosas a partir de 60 anos, na faixa etária de idade completos no ano da pesquisa, de ambos os sexos e residentes na zona urbana do município. Realizou-se estudo transversal, com amostra representativa dessa população, selecionada em dois estágios (setor censitário e domicílio). A variável desfecho é violência, investigada por meio da adaptação transcultural do instrumento Hwalek-Sengstock Elder abuse Screening Test (H-S/EAST). As variáveis demográficas e socioeconômicas foram: sexo, idade, raça, escolaridade, estado civil, renda familiar, trabalho e número de pessoas que dependem da sua renda. Concomitantemente, foram investigados capacidade funcional, estado cognitivo e se os idosos eram acamados. Do mesmo modo foram realizadas perguntas para verificar sua participação em grupos de convivência e quem era o cuidador principal, assim como a quantidade de pessoas que coabitavam com as pessoas idosas. A avaliação dos sintomas depressivos foi mensurada a partir da Escala de Depressão Geriátrica (GDS) e investigaram-se 13 morbidades autorreferidas. As associações entre a violência e os fatores associados foram testadas através de regressão logística. Neste estudo, foram realizadas 1.197 entrevistas, 57 excluídas por terem sido respondidas por informantes, resultando em 1.140 como foco de análise. Encontrou-se alta prevalência de violência (25,7%); entre idosos de 60-74 anos esse percentual é de 29,5%, e 75 anos ou mais, 20,3%, quando analisada para homens (27,9%) e mulheres (24,4%). Nos idosos com idade entre 60 e 74 anos, apenas o fator número de pessoas que dependem da renda mostrou-se associado à violência, e nos idosos com mais de 75 anos, na análise bivariada e multivariável, o número de pessoas que dependem da sua renda, cor da pele parda/preta, não trabalhar, condições de saúde (estado cognitivo e capacidade funcional) e possuir cuidador estiveram associados a maior chance de sofrer violência. Na análise multivariável dentre todas as variáveis relacionadas às condições de saúde, a suspeita de sintomas depressivos permaneceu associada à violência aumentando a chance em 280% para as mulheres e 190% para os homens, mostrando-se condição importante a ser considerada quando estudamos violência contra a pessoa idosa. Os resultados oriundos do presente estudo reiteram a importância de estudar o fenômeno da violência. Diante das informações trazidas e da relevância do tema, destacamos a importância de que novos estudos de base populacional, que tenham como foco a violência contra o idoso, sejam realizados a fim de que as evidências trazidas possam subsidiar ações efetivas de prevenção à violência, em especial àquelas que ocorrem em âmbito domiciliar. Além disso, que as condições de saúde e até mesmo sua sobrevida possam ser pesquisadas de forma longitudinal para que possamos entender, de fato, a magnitude da violência na saúde dos idosos.

Abstract: Brazil is undergoing a rapid aging process. In 2070, it is estimated that the proportion of the Brazilian elderly population (above 35.0%) is higher than the indicator for developed countries. However, this measure has a counterpoint to this reality where the support for this new condition does not evolve with the same speed. Violence against the elderly, defined by the World Health Organization (WHO) as an act of aggression or omission, may be intentional or involuntary, of a physical, sexual, psychological, economic, institutional, abandonment / neglect and self-neglect nature. The prevalence of violence varies from 1.8% to 60%, depending on the location, culture and instruments used to estimate its occurrence. The existing aggressions contextualize several aspects that qualify in social and family violence. The domestic one is that practiced in the family environment by relatives or caregivers. This will be a focus of analysis of this thesis, which aims to investigate the prevalence of violence against the elderly and to estimate the association between demographic, socioeconomic, caregivers and health conditions in elderly residents in Florianópolis, Santa Catarina. The reference population of the study is made up of elderly people aged 60 and over, in the full age group in the year of the study, of both sexes and living in the urban area of the municipality. A cross-sectional study was carried out, with a representative sample of this population, selected in two stages (census and domicile). The outcome variable is violence, investigated through the cross-cultural adaptation of the Hwalek-Sengstock Elder abuse Screening Test (H-S / EAST). Demographic and socioeconomic variables were: gender, age, race, schooling, marital status, family income, work and number of people who depend on their income. Concomitantly, functional capacity, cognitive status and whether the elderly were bedridden were investigated. Likewise, questions were asked to verify their participation in groups of coexistence and who was the main caregiver, as well as the number of people who lived with the elderly. The evaluation of depressive symptoms was measured from the Geriatric Depression Scale (GDS) and 13 self-reported morbidities were investigated. The associations between violence and associated factors were tested through logistic regression. In this study, 1,197 interviews were conducted, 57 excluded because they were answered by informants, resulting in 1,140 interviews. There was a high prevalence of violence (25.7%); among the elderly of 60-74 years this percentage is 29.5%, and 75 years or more, 20.3%, when analyzed for men (27.9%) and women (24.4%). In the elderly aged between 60 and 74 years, only the number of people who depend on income was associated with violence, and in the elderly over 75 years of age, in the bivariate and multivariate analysis, the number of people who depended of their income, brown / black skin color, not working, health conditions (cognitive status and functional ability) and having caregiver were associated with a greater chance of suffering violence. In the multivariable analysis of all the variables related to health conditions, the “suspicion of depressive symptoms” remained associated with violence increasing the chance in 280% for women and 190% in men, being an important condition to be considered when studying violence against the elderly. The results from the present study reiterate the importance of studying the phenomenon of violence. Considering the information presented and the relevance of the theme, we emphasize the importance of new population-based studies that focus on violence against the elderly, so that the evidence presented can support effective actions to prevent violence, especially those that occur at home. In addition, health conditions and even their survival can be searched longitudinally so that we can, in fact, understand the magnitude of violence in the health of the elderly.

Descrição: Tese (doutorado) – Universidade Federal de Santa Catarina, Centro de Ciências da Saúde, Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva, Florianópolis, 2017.

Download

 

Violência Sexual contra a Mulher: Características, Consequências e Procedimentos Realizados nos Serviços de Saúde, de 2008 a 2013, em Santa Catarina, Brasil

Carmem Regina Delziovo, Elza Berger Salema Coelho e Rodrigo Otavio Moretti Pires

A violência contra a mulher é uma violação dos Direitos Humanos e um Este estudo aborda as notificações de violência sexual contra a mulher compreendida como qualquer ato sexual, tentativa de obter um ato sexual, comentários ou investidas sexuais indesejadas, praticada por pessoa do seu convívio ou não. Tem como objetivo analisar a violência sexual notificada contra a mulher, em Santa Catarina, suas características e testar a associação entre o atendimento pelos profissionais de saúde, gravidez e infecção sexualmente transmissível (IST). Estudo de abrangência estadual, teve como base as notificações de violências sexuais de 2008 a 2013, contra mulheres adolescentes e adultas, residentes em Santa Catarina, ineridas no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN). Foi realizada análise
de qualidade do banco de dados com relação a critérios de não duplicidade, completitude e consistência. Como resultado o percentual de não duplicidade foi de 99,9%, de completitude 93,3% e de consistência 98,9%. Para o estudo da violência sexual foram selecionadas, da ficha de notificação, variáveis relacionadas a mulher
agredida (cor da pele, situação conjugal, escolaridade, ocupação), a agressão sofrida (local, horário de ocorrência, se foi violência de repetição, tipo de penetração, consequências e óbito), ao agressor (sexo, vínculo com a mulher agredida, suspeita de uso de álcool, número de envolvidos). Para testar a associação entre o atendimento realizado pelos serviços de saúde e gravidez foram analisadas 1.230 notificações e para IST 1.316 notificações. As covariáveis analisadas foram idade,
escolaridade, tempo atendimento, profilaxias para IST, contracepção de emergência, número de agressores, violência de repetição. Os dados foram analisados, no programa estatístico Stata (StataCorp College Station, Estados Unidos) versão 13.0, por meio da estatística descritiva em frequência simples e proporção. No teste do qui quadrado os valores  de p ≤ 0,05 foram considerados estatisticamente significativos. Calculados percentuais e os intervalos de confiança de 95% (IC95%). Testada associação entre as variáveis por meio da regressão logística com os valores expressos em razão de chance Odds Ratio (OR) não ajustada e ajustada e respectivos IC 95%. Foram notificadas 15.508 violências, destas 2.010 sexuais (12,9%), onde 950 foram adolescentes de 10 a 14 anos (54,0%) e 450 contra as de 15 a 19 anos  (20,7%). Para as mulheres adultas foram 610 notificações (5,7%). As adolescentes sofreram violência predominantemente por agressor único, no domicilio, no período da noite e tarde, com penetração vaginal, com maior recorrência de agressão e gravidez. As adultas foram agredidas tanto na residência quanto em via pública, no período da noite e madrugada, por agressor único, e penetração vaginal, com maior número de lesões físicas e tentativas de suicídio. Tanto para adolescentes quanto adultas o maior número de violências foi por agressores de sua convivência. A ocorrência de gravidez foi 7,6% e IST 3,5%. Foi significativamente associada à gravidez decorrente da agressão sexual, o atendimento pelo setor saúde em 72 horas e receber a contracepção de emergência. Ser atendida em 72 horas e receber a contracepção de emergência mostrou-se fator de proteção (84,0%) com menor ocorrência de gravidez. Quanto as infecções sexualmente transmissíveis, contrário ao esperado, as
mulheres que acessaram os serviços de saúde e receberam as profilaxias para HIV, Hepatite B e infecções bacterianas tiveram maior ocorrência, no entanto na análise ajustada não se mostram significativamente associadas. É necessário aprofundar o estudo para poder confirmar este achado, tendo em vista que as informações podem sofrer influencia de entendimentos diferenciados no preenchimento da ficha de notificação e esta não identificar qual o tipo de IST decorre da agressão sexual.
Destaca-se, a importância de dar visibilidade a violência sexual sofrida pelas mulheres e aos atendimentos realizados pelos serviços de saúde a fim de instrumentalizar a implementação de políticas públicas no enfrentamento da violência sexual, principalmente, em adolescentes de 10 a 14 anos.

Download

 

Violência Contra Gestantes: Prevalência e Fatores Associados nas Maternidades dos Hospitais Públicos de uma Região Metropolitana do Sul do País

Paulo Fernando Brum Rojas, Elza Berger Salema Coelho e Antonio Fernando Boing

O estudo em discussão refere-se à violência doméstica contra as gestantes que é aquela que ocorre em uma relação íntima. É dividida, quanto à natureza, em psicológica, física e sexual. Os objetivos são estimar a prevalência e fatores associados à violência doméstica em mulheres no período gestacional, identificar quais os tipos de violência (física, sexual, psicológica) a mulher sofre durante a gestação, avaliar o padrão de violência antes e durante a gestação e caracterizar o autor das agressões. A população de referência caracterizou-se por 753 mulheres puérperas, cujos filhos nasceram no período compreendido entre 01/03/2014 a 31/05/2014 e que estavam internadas nos setores de alojamento conjunto das Maternidades Públicas dos Hospitais da Grande Florianópolis, Santa Catarina. Realizou-se estudo transversal, por meio de entrevistas, face a face. Foi adotado questionário adaptado da organização Mundial da Saúde (OMS) denominado Estudo MultiPaíses sobre Saúde da Mulher e Violência Doméstica(WHOVAW), validado no Brasil. As variáveis utilizadas foram: de interesse central(violência doméstica durante a gestação),demográficas(idade, cor da pele),socioeconômicas(escolaridade, trabalho atual, renda), relacionas à gestação(gravidez planejada, número de consultas, abortos), de comportamentos relacionado à saúde(uso de álcool, fumo, drogas),relacionados às situações de violência(brigas do casal, envolvimento em brigas com terceiros, violência em gestações
anteriores, violência no último ano). A variável de interesse central foi correlacionada com as demográficas, socioeconômicas, de comportamentos relacionados à saúde, e,também, às situações de violência. Foram realizadas análises multivariadas. A prevalência de sofrer violência durante a gestação foi de 17,8%. A violência psicológica (17,5%), mostrou-se mais elevada do que a física (5,4%) e a sexual(0,1%). No que diz respeito ao padrão da violência, observa-se aumento da violência na gestação atual (17,8%), quando comparada ao ano precedente (3,1%). Observou-se que as variáveis que permaneceram mais fortemente associadas ao desfecho foram mulheres que já haviam sofrido violência nos últimos doze meses, que haviam sido agredidas em gestações anteriores, que faziam consumo de álcool, não brancas, que
apresentavam transtorno mental comum e que não trabalhavam. Na caracterização do autor das agressões contra a mulher durante a gestação, a associação maior foi o consumo de álcool, uso de drogas, envolvimento em brigas, ter realizado agressões em gestações anteriores e ter agredido sua parceira na última gestação.

Download